Formar mão de obra especializada, incentivar a educação estratégica e qualificar os trabalhadores são alguns dos motivos que levam as empresas de transporte a investir em centros de ensino dentro da própria corporação. As universidades têm como objetivo agregar conhecimento, desenvolver habilidades e unir a teoria à prática para seus funcionários.
Pagos ou gratuitos, com módulos ou por grade curricular, o conceito já tem algumas décadas, mas ganhou destaque no setor de logística e transporte apenas há alguns anos. A Universidade do Transporte, implementada pela Transportadora Americana (TA), e a Universidade Corporativa de Logística e Transporte (ULT), do Sindicato das Empresas de Transportes e Cargas de São Paulo (SETCESP), são alguns dos exemplos de iniciativas que especializam profissionais com a ajuda de professores que entendem do assunto.
Em Americana, a iniciativa é qualificar
Tudo começou na década de 70, quando Adalberto Pavan, um dos empresários da Americana resolveu instituir um centro de treinamento para aprimorar os trabalhadores do grupo. “Os acionistas da empresa sempre prezaram muito pela qualidade do serviço prestado e, por esse motivo, decidiram qualificar seus funcionários”, expõe Ida Fernandes, coordenadora do curso da Universidade do Transporte.
Uma das pioneiras a qualificar seus trabalhadores, em 1998, a transportadora resolveu desenvolver uma aprendizagem mais abrangente e moderna. Nascia, então, a Universidade do Transporte. Pouco desenvolvido no país, o conceito chegou na bagagem de um dos acionistas da empresa, após uma viagem ao exterior. Foram feitas, ainda, algumas visitas em associações com este tipo de serviço, como Motorola e rede de hotéis Accor, esta última localizada em Campinas e com um centro avançado na prática.
No início, os treinamentos tinham características bem específicas para preparar de forma completa os profissionais de logística, como motoristas e gestores. O foco dos cursos era no transporte e na administração. Só depois as aulas, antes apenas para os funcionários, passaram a se tornar mistas entre colaboradores da Americana e profissionais de empresas de transporte parceiras.
As vagas, disponibilizadas mensalmente, não seguem uma regra fixa quanto à distribuição. A oficina de gerenciamento de frotas, por exemplo, tem uma média de 20 alunos por sala, geralmente gestores. Desses, 10 são da empresa, e a outra metade da turma faz parte do público externo da universidade. Em cursos para grupos menores, as inscrições são feitas de acordo com a demanda. Após um levantamento feito pelo RH, os trabalhadores são convidados a participar. “A preferência é sempre de quem possui a necessidade do aprendizado”, explica Ida. Para os funcionários da empresa, são gratuitos.
Hoje, a sede da universidade fica na base corporativa da empresa, em Americana. E como a renovação de ideias, estrutura e metodologia precisa ser constante, Ida conheceu recentemente o ensino superior do McDonald’s, para aprender sobre o seu funcionamento. Maravilhada, voltou cheia de ideias para implementar na transportadora. A infraestrutura da instituição educacional é complementada com um hotel que atende ao público interno e hospeda até 35 pessoas – vagas reservadas aos profissionais da empresa que não residem em Americana -, um auditório totalmente equipado, cinco salas de aula, um laboratório de informática e uma biblioteca.
Aplicados por carga horária, divididos durante a semana, os cursos tendem a durar menos de um mês. Os aprimoramentos são operacionais, que têm como enfoque as atividades de transporte e a qualidade dos serviços; administrativos, desenvolvendo as habilidades comunicativas e de liderança; e treinamentos gerenciais, mais voltados para a parte estratégica. Em 2011, a Transportadora Americana iniciou o programa de pós-graduação oficial e reconhecido pelo MEC, com certificação é comprovada pela Faculdade de Tecnologia de Indaiatuba (Fatec).
Sindicato une a prática à teoria
Com o boom de universidades corporativas dos anos 80, o atento SETCESP viu na iniciativa uma boa oportunidade para enriquecer o conhecimento dos interessados. A motivação, mesmo com o passar dos anos, continua a mesma: formar mão de obra de qualidade para a gestão das transportadoras. Após a ida de uma comitiva da empresa para os Estados Unidos, onde já era forte o conceito de se aumentar a instrução dos empregados, foi aos poucos montada ideia da Universidade Corporativa de Logística e Transporte (ULT).
Até a criação do curso com grade curricular e disciplinas, eram dados treinamentos esporádicos para os trabalhadores interessados no sindicato. Dos anos 2000 pra cá, com o crescimento nos investimentos em transporte e logística, o que era apenas um pensamento começou a tomar corpo. Fundada em 2010, a ULT ainda não é reconhecida pelo MEC, porém essa não é uma das preocupações para o diretor executivo do SETCESP, Adauto Bentivegna Filho. “O curso é ideal para alguém que já possui Ensino Superior e deseja uma formação mais teórica sobre o assunto. Funciona como se fosse uma especialização”, reforça.
A iniciativa conta com um grupo de funcionários que mantém a estrutura de três salas e uma biblioteca em dia. Os professores são, geralmente, pós-graduados e mestres no assunto. Um requisito é necessário: ter trabalhado ou atuar em uma transportadora. A ULT dura um ano, a partir de março, e tem 12 disciplinas – a cada mês, os alunos aprendem sobre um assunto a fundo. “Em setembro, por exemplo, eles estão aprendendo sobre tributarismo”, comenta Bentivegna Filho. As aulas para 15 alunos ocorrem ou durante a semana, à noite, ou no sábado, durante o dia inteiro.
Indicados pela empresa ou inscritos por conta própria, os alunos são em sua maioria homens e pagam R$ 350 para obter a formação em Gestor em Transporte e Logística. “O boca a boca ajuda muito na divulgação”, afirma Bentivegna Filho. Ideal para quem já possui formação superior, trabalha no ramo e fica dentro das sedes das empresas, é uma complementação ao que a pessoa já conhece sobre a organização e o transporte.