Empresa da Odebrecht prepara mão-de-obra para tocar projeto de US$ 250 milhões

A pequena Rio Brilhante, em Mato Grosso do Sul, ganhou um sotaque diferente nos últimos meses com a chegada de 62 angolanos. O grupo desembarcou na cidade para passar por três meses de treinamento na usina da ETH Bioenergia, empresa da Odebrecht que atua na produção de açúcar e álcool.

O grupo faz parte do primeiro projeto do setor sucroalcooleiro de Angola comandado pela empresa Biocom. O investimento total é de US$ 250 milhões. A inauguração da primeira fase está prevista para a metade de 2010.

Angola foi, até os anos 70, um exportador de açúcar, mas com a guerra civil que destruiu o país passou a importar tudo que consome. As usinas antigas foram sucateadas e acredita-se que nenhuma delas tenha condições de ser recuperada.

A Odebrecht é sócia da Biocom, com 40% do capital, ao lado de outras duas companhias angolanas, a Sonangol (com 20%), estatal do setor de petróleo, e a Damer (com 40%). O custo do treinamento no Brasil é pago pela Biocom.

Wanda Cristina de Oliveira Lubaco, de 25 anos, cursava o terceiro ano do curso de Engenharia de Petróleo na capital Luanda quando teve a chance de conseguir um emprego no novo projeto. “Em Angola eu nunca tinha ouvido falar em usina. Agora acho que será a minha aposta para o futuro. Talvez eu mude para um curso de Química”, conta.

O trabalho na Biocom será o primeiro emprego da vida da jovem. Para ela, será um passo importante: “Vou ajudar na reconstrução e no desenvolvimento do meu país. Aposto que vamos ter o prazer de usar o açúcar branco para o consumo e o prazer de exportá-lo.”

Pavlov Dias Neto também deixou o país natal, a mulher e os dois filhos. A meta do país, segundo ele, é até 2012 acabar com a importação de açúcar. “É o primeiro contato que tenho com o setor sucroalcooleiro. Estamos na reta final e tenho certeza que voltaremos com condições de operar a usina e levar nosso conhecimento para outros angolanos”, conta. Para ele, o agronegócio deverá ser um dos setores com mais potencial. “É uma forma de melhorar a dieta dos angolanos e de desenvolver o país.”

No total, o grupo passará por mil horas de treinamento – 420 teóricas e 580 práticas -, conta Mauro Magenta, responsável por desenvolvimento de pessoas da ETH Bioenergia. A iniciativa de procurar a ETH foi da Biocom, que argumentou que a partida no projeto precisaria de apoio de uma empresa com know-how na área.

A empresa fez uma parceria com o Senai e a Fundação Paula Souza e montou o conteúdo de treinamento. “Foi uma iniciativa importante, já que Mato Grosso do Sul está à frente do processo sucroenergético do País e tem se transformado em uma liderança”, afirma Sergio Longen, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso do Sul.

As aulas começaram em 26 de agosto e terminam em 16 de dezembro. Os angolanos foram alojados em 12 residências da ETH e contam com uma casa de apoio com computadores. Para passar o tempo, além dos churrascos e gastronomia típica angolana, os alunos usam muito a internet e até participaram de partidas de futebol com os colegas brasileiros.

Segundo Wolney Longhini, representante da Odebrecht na Biocom, a meta é que a usina produza 250 mil toneladas de açúcar por safra. A planta estará em plena operação até 2014.

A Biocom também teve de investir no desenvolvimento de um viveiro de cana; ele tem 200 hectares e pode ser transplantado para uma área de 30 mil hectares, concedida pelo governo angolano. O foco da planta será na produção de açúcar. Apenas 22% da cana vai se transformar em álcool anidro.

APOSTA EM ANGOLA

Angola e outros países do sul da África entraram de vez na mira de empresas brasileiras. Recentemente a Apex, agência de promoção comercial do governo brasileiro, organizou uma missão de empresários para fazer negócios na região. “O agronegócio tem um espaço muito grande para as empresas brasileiras. Angola tem uma demanda muito grande por todo tipo de produto e serviço”, comenta Maurício Borges, diretor de negócios da Apex.

As oportunidades levaram à criação da Câmara Angola-Brasil, lançada na última quinta-feira. “Angola tem uma vocação grande para o agronegócio e isso interessa a muitas empresas. Há negociações no setor de alimentos e biodiesel”, conta Eduardo Arantes, um dos dirigentes da câmara.

Fonte:www.estadao.com.br

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